Mais uma nova discussão travada pelo casal. Um, nunca soube ouvir e impunha sempre suas verdades e vontades através do grito e do temer. O outro, assim como todos, sempre tentara mostrar caminhos, saídas que não sejam pelo temperamento explosivo daquele. O ar que apaga o fogo é o mesmo que o atiça.
Sim, e em algum momento, uma fratura, ou melhor, fraturas ocorreram. Os egos não suportaram suas próprias pressões e seus pesos acabaram por fazer ceder o fino teto do respeito que a convivência sustenta. E com a ajuda do espaço da casa, criaram uma cisma e demarcaram seus territórios tal como faz o animal a proteger lar e alimento.
E destas interrupções de discurso unilaterais, irrompem palavras do outro que, como uma avalanche, derruba toda e qualquer (re)ação, prevendo resultados, ensaiando novos discursos autoritários (dos quais já se sabe as resoluções), minando o sujeito com fúria, voz alta e imponência, isolando seus próprios ouvidos para o que o outro antes dizia. Isso se chama, antes de mais nada, falta de educação - e ainda um pouco mais além, uma constricção da fala que impede o rebento de novas soluções para o que quer que seja, deixando o interruptor para sempre envolto numa nuvem de agonia, como abelhas a zumbir insanamente em seus imprestáveis ouvidos. O diálogo será para sempre ausente, traçando un fino silêncio no limiar das oscilações de seus gritos.
E este ruidoso silêncio é o álibi do crime: aquele de jamais ter havido diálogo naquela casa tão bonita; pois o crime foi o próprio assassínio desta ação, o dialogar. O ar agora já não somente atiça o fogo: ele o alimenta para sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário