KindS of Blue...: 2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

A voice from a force


My love!

U can always count on me... I want ya to be fine. Look after something better to u!
Never feel uncapable, all of us have the same capacity... we just don't know how to use it sometimes. If u love playin' guitar, go ahead with it, play with the best bands, try to improve yourself more n' more, 'cause I don't see any chances with this people u were playin' with. Look after the pro's. U aren't weak! Never feel smaller than anyone. U gotta stop with that, give yourself some value!!! We're together in this. Don't ya regret for quitting your old job, 'cause there were no better chances there. Look after other similar jobs if ya really want this kind of work. This is the time, and ya don't need to tell nobody.

Kisses! L.Y.V.M

domingo, 23 de novembro de 2008

Estável

Você se arriscar 
a dar passos curtos

só por achar que

o chão está sob seus pés?

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

03/08/08:

Para tratar dos meios,
pelos sabores inteiros,
onde haverá lugar para
o calor?

dos ombros desnudos
nas mãos em surtos
de avidez e fricção,

para responder aos gestos
simples e honestos,
é preciso crescer.

Olhar o horizonte é
alcançar o monte
do futuro, e edificar
um clamor:

"nossa eterna estrada,
nessa triste intifada,
é mesmo o amor!"

Teia

Medir as coisas do mundo
é tocar um invisível nó
dentro da trama escura -
e impalpável - do cosmos.

Tocar o intangível das coisas da mente
é mergulhar sem medo
no emaranhado e belo
complexo do corpo, chamado coração!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A birthday message

Hi!!!

Happy birthday!

...I wanted to compliment you in a different way, you know... to wish you the best without sounding the same, an tell you a lot of cool things and everything else, but I realized that we can't measure the honesty of one's words by the amount of cool things that can be said but by the lot of good things that I can make you feel without saying a single word... then, I'll just say "happy birthday", so I'll know that you'll feel all the good things I wanted to wish you today which are entangled here!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A Carroça

Na avenida, o cavalo ia a seu trote
tão rápido quanto podia;
mas a fila de carros atrás dele
não sabia se passava ou se o seguia.

Seu condutor - sem espelho, é claro
não sabia pra onde olhar;
muito aflito, só esperava
um engarrafamento não causar.

Quem por ele passava, já ia gritando:
"-Sai da frente, animal!", ao buzinar
Enquanto o humilde senhor não sabia
se era com ele que falavam
ou com o amigo quadrúpede a lhe puxar.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Fissuras do Falar

Mais uma nova discussão travada pelo casal. Um, nunca soube ouvir e impunha sempre suas verdades e vontades através do grito e do temer. O outro, assim como todos, sempre tentara mostrar caminhos, saídas que não sejam pelo temperamento explosivo daquele. O ar que apaga o fogo é o mesmo que o atiça.

Sim, e em algum momento, uma fratura, ou melhor, fraturas ocorreram. Os egos não suportaram suas próprias pressões e seus pesos acabaram por fazer ceder o fino teto do respeito que a convivência sustenta. E com a ajuda do espaço da casa, criaram uma cisma e demarcaram seus territórios tal como faz o animal a proteger lar e alimento.

E destas interrupções de discurso unilaterais, irrompem palavras do outro que, como uma avalanche, derruba toda e qualquer (re)ação, prevendo resultados, ensaiando novos discursos autoritários (dos quais já se sabe as resoluções), minando o sujeito com fúria, voz alta e imponência, isolando seus próprios ouvidos para o que o outro antes dizia. Isso se chama, antes de mais nada, falta de educação - e ainda um pouco mais além, uma constricção da fala que impede o rebento de novas soluções para o que quer que seja, deixando o interruptor para sempre envolto numa nuvem de agonia, como abelhas a zumbir insanamente em seus imprestáveis ouvidos. O diálogo será para sempre ausente, traçando un fino silêncio no limiar das oscilações de seus gritos.

E este ruidoso silêncio é o álibi do crime: aquele de jamais ter havido diálogo naquela casa tão bonita; pois o crime foi o próprio assassínio desta ação, o dialogar. O ar agora já não somente atiça o fogo: ele o alimenta para sempre.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ofício das coisas inominadas

ao versar, vou criando
e apalpando
as caixas místicas
do espaço de sonhar.

numa flexível curva,
entre letras e sons,
busco somente
o que não te interessar.

É isso a matéria da poesia?

Egoísmo de lugar

Todo pensamento que escrevo
é proporcional ao desejo
pelo tempo sem fim,
pelo silêncio, e pela paz
de desenhar linhas com marfim.

Tudo o que tenho é o ruído,
a ausência de uma significação
que para mim, é a fonte
o propósito, o dom de poder
escrever em cima deste monte.

Não há paz no ruído?
Para onde eu correr, o silêncio
é ausente. E nem na doce noite
tenho o rubor como companhia:
somente a memória do barulho-açoite.

sábado, 18 de outubro de 2008

Pequena

(para a Vívian)


Me lanço aqui, como um atrevido trovador,

para desenhar, na grande pauta
cósmica, uma simples ode
sobre tua beleza de ser.

Eu a abracei, como
um desespero de lembrança
atinge as correntes do
pensar, arremessado pela alegria
para o teu pequeno corpo.

Como me alegra ver de novo
teus cabelos longos em
tributos ao vento!

Sou contemplativo
aventureiro em escrever
de teus sorrisos, a doçura amiga.

Se pudesse, te puxaria
dos meus sonhos;
capturava cada uma
de suas cores, com afeto
e temperos de sons que só eu sei gostar

e devolveria com todos os
segundos de tuas poses,
faces, sorrisos e impressões,
sem classificar - apenas
com a pureza dos sentidos.

Tens a garra de uma águia
e a força de um leão
cuja presa é o sonho,
a meta é a felicidade e o combustível,
a paixão e a serenidade.

Vieste pequena como
os espaços entre dedos das mãos.
Hoje, não cabe em um abraço,
sendo demasiada grande
pra ocupar meu coração!


Estratégia

Conheço tuas fraquezas,
estudo táticas e movimentos.
Só eu posso te atacar.

Apreendo-me em teus medos,
tuas preferências e virtudes.
Só assim, posso te atacar.

Examino como um médico
teus pontos fracos, pormenores.
Só depois vou te atacar.

Me preparo - em punho, a espada
e lanço meus sussuros de guerra.
Só agora posso te atacar.

Agora
derrubo teus portões,
arrebento os grilhões.
Passei por teus úmidos muros
e sou reinante em teu espaço.

Assim, bem devagar
é que vou te atacar...

...com carícias, 
vou te deleitar.

você se rende agora?




sábado, 11 de outubro de 2008

Banco de carro


Sem saber se teus olhos
fecham ao alcance dos meus
ou me absorvem, em pequenos
goles de uma tácita luz,

Só nós dois, e a noite parou
na penumbra das carícias
nada fugazes.

Somos moral de nossa fábula
e travamos guerra santa, silenciosa
onde um (se) devora ao outro
com sede por sabor e paixão.

Sussuros nascem, cheiros
de bocas, apertos, toques, tesão.

Só assim, pequenininha,
é bom namorar nestes canteiros.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Olhos verdes

Chegando como fogo, fez meu juízo
convalescer.

Hoje, é mais presente
e me fez rejuvenescer.

Por quanto tempo, olhos verdes,
vou saber te conhecer?

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Zíper

Há muito mais a desvendar
além do espelho d'água,
da superfície de tuas roupas, meu bem.

Há muitos mundos, trilhas
a se explorar. Oceanos,
montanhas, escalar teus vales
como a sensação inesquecível
de toda primeira-vez.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Enzo

ele sempre
sempre
sai correndo
para a porta

ele só tem um ano
um aninho
e já quer pegar a
estrada do mundo

ou só quer pedir
- e não sabe nem falar -

por mais
um colo
e um sorvete?

domingo, 21 de setembro de 2008

Pela mesa, na janela, ao riozinho com pedrinhas

Que o desfilar de palavras
não seja só mera forma de expressão
E que as rosas dadas não sejam
somente delicadeza padrão.

Pois que seja tudo, então,
mais puro, mais sincero,
profundo, apaixonado e sem receio
de assim ser: renovado e exorbitante.

Que do fundo de minh'alma seja ele
agora sim, certo e amadurecido
de sentir - e resistente
aos carmas e rachaduras do tempo.

Capaz de expressar,
num tocar de lábios e carícias,
o que teus olhos em mim despertam,
o que minha boca (ainda) não diz,
e aquilo já consumado:

meu ser é parte tua, dos teus dias
flutuante neste mar novo de velejar.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ponto

Tomar nota:

Preciso de imagens, referências, sabores,
tons, cores e linhas

paralelos, meridianos
espécies, tipos, filo, gêneros,

espatódias, clarabóia, sótão,
flor-de-lis, margaridas,

não sei como organizar
mas tem algo querendo sair
do meu occipital com força.

Ah, talvez também um fórceps
pra ajudar neste difícil parto.




segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Tempo e fé


O tempo e(´) a fé...

Manhã democrática


Quase perco o instante da borboleta
passando pela janela. Ao fundo, 
a grande selva de pedra

a fábrica em ruínas,
os poucos pinheiros altos.

Eu ouço a música 
e leio as histórias de crianças

e cada nota da canção,
(eu tenho certeza)
esconde, como em uma cápsula,
todas essas histórias
com muitos roteiros a mais
a escrever.

no meio dessa caótica ordem,
a borboleta.


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Amar


Que importa quantas vezes?

O que dá vida a um verbo
é a sua conjugação.


Amor (II)

(à la Corsaletti)

não
deve ser
somente aquilo
que os livros
ditam


tampouco
o que
eu tô escrevendo
aqui


deve estar/ser
em alguma coordenada
entre os quatro olhos
e lábios


que, falhos, tentam
comunicar-se
à moda da
alma


assim como aquela
que me ensinou
sobre o
silêncio.


(Des)de(se)nhar



Vou desvendar tua métrica
e tirar dos esquadros de teu padrão
a ousadia de negar referências,
pois és única.

ah, um dia eu vou

colorir os olhos de quem
te vê mas não sabe
que só eu possuo
a aquarela de fazer

sim, a aquarela, a minha mesmo,
donde extraio os sons
que desenham este poema sobre ti.


Tu resplandeceste.
resgataste sorrisos puros


e teu carinho é 
seda na pele cremosa
de noite.

mas até que ponto?
pois não quero, 
amor,
prazo de validade.


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Resultado da D.R. nº 2


Dissolvendo o medo,
aduba-se a esperança.

Qual sera a cor do amanhã?



terça-feira, 19 de agosto de 2008

Muda de pele

Eu tô trocando tudo, fazendo a faxina,
limpeza geral na armadura do corpo e na usina da mente.
Nessa muda de pele, eu jogo fora as células velhas
com um esfregão de braço a braço;

Eu jogo fora as velhas cartas,
as antigas funções, os manjados
bordões, os caducos jargões;
os conceitos pueris dentro de cadernos empoeirados
da adolescência que hoje já têm suas respostas
preenchidas na atualidade do meu coração.


Eu hoje quero mudar, expurgar tudo!
O que for atraso, escárnio,
estagnação do caminho com pedras
vai ser removido
com um batalhão de escavadeiras
pintadas com um grande "M".

Eu agora faço minhas preces com um incenso
e energizo os cantos deste quarto:
meus bons livros, cd's e uma plantinha -
vejam só! ela já dá novas flores...

Mas também quero renovar a sede eterna:
completar as novas perguntas,
as questões de uma nova era.
Jamais confundindo movimento com ação -
mas sabendo que este é o princípio de toda compreensão!


Agora e sempre,
este é meu lema a todo momento:

"Cinzas ao mar,
velas ao vento!"


segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Mostra

Daquela janela, eu não queria ver. Mas, de súbito, ao primeiro sinal do apartamento vazio... ela surge. Eu me transformo num pervertido, porque ela insinua a si mesma, no corpo de uma adolescente, as nuances sensuais de uma mulher.

Ela cavalga um travesseiro - ou seria a própria cama como um todo masculino? - enquanto eu observo, atônito pela primeira vez. Meses se passaram e contemplo o gesto de surpresa, novamente. Deve ser a camisola da mãe que ela veste, pois é maior que suas medidas.

De rosa, ela acaricia sua rosa secretamente onde se apóia... o travesseiro é mesmo um todo masculino e recebe o úmido rubor de sua rosa, esfrega, finge que toca, sem as mãos... aquece, entumesce - bem rosadinha, que me faz imaginar a mulher que ali já quer nascer.

Mostra. Mostra pra mim, menininha...

Portais

Em todas as manhãs
o mesmo sol
joga pela terra as chaves
dos pórticos da mente.

Que seus fúlgidos raios
para sempre rasguem
o firmamento,
como na boa aurora após o vendaval.

Iluminem, ao mesmo tempo,
os recantos da alma
para que guardemos as chaves
do futuro.

domingo, 17 de agosto de 2008

Esconde



Esconde. Esconde de mim, menininha...
esconde bem debaixo da tua calcinha
- de tecido perfumada, em estrelas coloridas -
teu desejo aprisionado e fantasias reprimidas.

Esconde, esconde pra mim, minha linda,
toda essa hipocrisia que colocam na berlinda;
mas o prêmio é só teu, nem eu posso te dar
o prazer que, entre suas pernas, sozinha vais achar.

Hoje és mulher, ontem foste debutante -
vês como a doce infância passa num instante?
Agora, teu mundo é em direção ao outro,
teu futuro companheiro, a tocar-lhe o íntimo tesouro.

Mas antes disso, vais ter de descobrir,
tudo o que te faz doer e o que teu corpo quer pedir;
toque, cheire e prove sem medo o aljôfar da vida
para que assim, no momento a dois, saibas ser conduzida.

E ainda antes na tua solidão, livre da sociedade
é que vais saciar tua curiosa vontade:
inocentes e nervosas, tuas mãos no úmido vale
para que, contemplativo, de gemidos teu corpo fale.


Num carro, perto da faculdade

O que diabos ela estava fazendo ali?
Sentada comigo, no carro, mal conversando como velhos amigos. Eram próximas as salas da faculdade e o bar, mas estávamos ali: sentados, lado a lado dentro do carro, sem música ligada em bom volume, sem assuntos pendentes.

Só ali. Como velhos amigos. E eu dizia Tenho que ir, ao que ela não respondia de nenhuma maneira; só ali ficava, com vontade de sorrir, mas numa tristeza estranha como a de um mau dia que não passou.
O que eu vou pensar?, eu pensava... e o único questionamento que seus olhos me faziam era Quem é você? - ela me conhecia, de longe... Mas não eu a ela.

Num momento, porém, esboçou um sorriso e não quis a porta abrir.

Por quê diabos sonhei com ela?

sábado, 16 de agosto de 2008

Ferramentas de (des)uso

As armas que estão dentro de mim
são para rabiscar o lento giro do mundo.
Minhas mãos são o lápis
e meu horizonte, o próprio estojo
de onde saco a vontade de pintar.

Quero cantar o mundo multicromático
das flores, dos métodos e anseios de ontem
e que se unem no desperdício de hoje:
como escrever com tantas idéias sem fluxo?

A fome que empurra é compelida pela mente que impõe
que se deve:

Parir, compor, organizar e classificar

Submeter à crítica, reescrever,

padrão, estética,

movimento, conclusão,

inten(s)ção,
informação,
viagem, lúdico suspiro...

Sistêmica
escala
formato
projeto...

Sorte mesmo tinham os trovadores!

domingo, 10 de agosto de 2008

Cerejas

E te amei porque não convivemos.
E nesta ausência, me sustento.

Pois a saudade é o conservante 
do mais-que-perfeito.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Os lados, os fados e... o fim dos fardos

Desfaço no ar com um leve aceno
a cortina de letras borradas
que, como besouros, espantam
bons arranjos,
como flores a um altar.

Ao redor de um wadi*,
respiro e arrasto nas veias dos ventos
aplausos, dentes descalços
em sorrisos de fé

Quando a máfia de pássaros-tenores
me rende em amigável interrogatório:
"Queres as teclas ou as cordas?"

Pelo que respondo, aos borbotões:
"Tragam-me as idéias.
Os sons, estes não morrem por meras predileções".


-----------------------------

*wadi:
em árabe, o leito de um rio.

domingo, 27 de julho de 2008

Por onde ir

Volta a acontecer aquele mesmo doce tormento
do qual ele não era acometido por tantos anos;

Volta um pouco da insegurança,
do medo de perder, de não se alcançar
(e alcançá-la)

abrindo, então, suas defesas
para a invasão do exército de perguntas
e segredos velados.

Pois, por mais que tente,
ele não conseguirá se livrar

jamais

da cumplicidade e carinho
que derrubam a trincheira de seu
veterano coração de guerra!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Doce chuva

Espero assim à noite
da estrela de esperança

os teus lábios a me cobrirem
de doçura e confiança.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Virgem

É mesmo só um sorriso que
te faz ganhar um dia.

Espaço dos mais belos encontros é
a varanda dos olhos,
projetando luz em seu altar matinal
das boas coisas novas

Ao meio-dia te celebro
com um olhar para as flores
que ainda em seu cabelo vou pousar.

E no entardecer da boca que
te doa - e sempre espera -

eternizaste um presente
que se chama "voltarei!"

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Ondular

Melodias que enriquecem

carinhos ondulares

que retornam

e alimentam

todas as noites

com sonhos de provérbios


são as mesmas

que anunciam

o poder da paciência

- única chave para

a gaveta das respostas

daquilo que eu não imaginava

poder realizar.


Pois que alguém saltou

do meu próprio espelho

e disse em sorriso e olhar:

"basta a gente querer."

Agora sou mais vivo,

mais altivo e acertivo

pois que respondi:

"sou um mero aprendiz,

mas com você

quero conviver

pois você tem razão:

tenho muito o que aprender!"

terça-feira, 8 de julho de 2008

Como é que eu tô agora?

Eu tô mais ou menos assim, ó:


"Pouco me importa o passado
quero poder te abraçar;
viver esse amor adolescente
quero poder te beijar"


(música beeeem novinha do Chiclete com Banana!)
=)

À Luz

Tá nascendo algo legal,
agora eu posso sentir!

Não é como o medo de antes,
o medo de se ferir;
metade da defesa está baixa
e logo vou retirar meu próprio aval.

Despluguei minhas conexões,
refiz minha matéria, meu físico,
nascidos daquele pequeno broto
de uma árvore de pêssegos - calor intrínseco.

Pois agora eu quero me desfazer
de toda alvorada sem confiança,
e quero me abraçar em contemplação
de dois narizes que se afagam fazendo uma lembrança!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Pétalas na água

Definitivamente, aquele não era dos melhores fins de semana. O garoto não se recordava bem mas, quando me contou este fato, lembra que estava na casa de praia com seus pais. Alguma chateação ocorreu de tal modo que o fez perder a graça do feriado.

Subiu à cidade com a mãe para comprar mantimentos. A tristeza o abateu de tal modo que o garoto até mesmo esqueceu de lanchar - e olha que os lanches na praia eram bem mais generosos do que sua "dieta" na cidade!
E na hora que a fome chegou, veio como pétalas na água: desmanchando sem piedade todas as cores, mas colorindo um rio que antes era sem graça.
Quando sua mãe checou o dinheiro na bolsa e o convidou ao lanche, o garoto foi e se sentou ao seu lado. Um senhor fritava pastéis na barraca, cantando. Uma música triste, mas bela, simples e honesta. Falava sim de amor e coisas boas, mas num tom menor e melancólico, como uma distante saudade.

E hoje o garoto recordou, do momento triste e do presente ao fim do dia: coroado com o senhor, seus pastéis e sua música, com o abraço gostoso de sua mãe e um entardecer de eliminar (e iluminar) qualquer ausência de qualquer coisa.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Burning letters

Take and burn them
Take all your love letters and scraps
You'll feel them smell a softer scent.

And in the end,
the paper sparks,
they'll just fly as
ascending stars.

Leaving her away from me,
with happiness and a relief.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Lúcida aurora

É verdade mesmo que tudo
renasce com o sol;

Com novas cores,
tons, dimensões,
e profundidades (nem sempre) harmônicas.



Tenho aqui trinta e duas
crenças e oito raios de sol
para comprovar isto.

O mar é diferente

O mar é diferente
neste lado leste da orla;
águas de um verde sem ser
o azul da outra praia
de um safira mais contente.

Será pelo sol ou
os ventos?
Ou pelas areias, talvez,
reclusas, quase omissas
a esta hora quase meio-dia.

Constante mesmo é que é só
o desejo de chegar ali,
aproximar-se como dois amantes
num abraço profundo das marés.

O mar é diferente
neste e nos outros lados da orla.
Mas quem, neste mundo, pode ser
a isto tão indiferente?

domingo, 1 de junho de 2008

Resignação

Insustentável sensação
de que uma escada
de vidro não resiste
à ausência do peso
de tua alma em
mortalhas.

Silêncio que não justifica
o roubo cruel de
teus feitos dedicados.

Mas gosta de sofrer
aquele que espera
para ver e
não sentir
a flecha que lhe
corta além da carne.

Recuperar a doçura
é esperar
moedas trocadas
e ainda um sorriso
de um falso filantropo.

Nunca mais querer amar
é quase uma opção.


Soneto 27

Exausto da jornada, corro à cama,
a dar aos membros uma paz tão cara,
mas na cabeça outra viagem chama,
trabalha a mente quando o corpo pára.
Meus pensamentos longe te despertar
e até teu ser devotos peregrinam
e eis as pálpebras frouxas bem abertas
no negrume que os cegos descortinam.
Só que desta alma a vista imaginária
te mostra a sombra à vista uma visão
e, qual jóia na noite tumultuária,
com nova face brilha a escuridão.
Assim de dia ao corpo, à noite à mente,
nem por ti nem por mim paz se consente.


(William Shakespeare)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

"Cada fato é a idéia tão avesso,
Que os planos ficam sempre insatisfeitos;
As idéias são nossas,
não os feitos".

(O Ator Rei, em Hamlet - William Shakespeare)


Everything

Find me here,
And speak to me
I want to feel you
I need to hear you
You are the light
That's leading me to the place
Where I find peace.. again

You are the strength
That keeps me walking
You are the hope
That keeps me trusting
You are the life
To my soul
You are my purpose
You're everything

And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better than this

You calm the storms
And you give me rest
You hold me in your hands
You won't let me fall
You steal my heart
And you take my breath away
Would you take me in
Take me deeper, now

And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better than this

And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better than this

Cause you're all I want
You're all I need
You're everything, everything
You're all I want
You're all I need
You're everything, everything
You're all I want
You're all I need
You're everything, everything
You're all I want
You're all I need
Everything, everything

And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better than this

And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better any better than this

And how can I stand here with you
And not be moved by you
Would you tell me how could it be any better than this
Would you tell me how could it be any better than this

(Lifehouse)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Progressão escritométrica

com o perdão do neologismo


Eu ando em círculos pra te achar
Só você, e você será
De longe, a minha maior criação
neste mundo da minha louca imaginação.


Torpes lembranças de outrora,
da escrita fértil e sem demora.
E colhendo versos vespertinos
Acabei por me abraçar a sonhos e desatinos.


Era o eldorado das palavras de amor!
Dezenas por semana, com muito dispor.
Sem vergonha nem juízo, fiz meu escrever:
de cartas apaixonadas até versos sobre viver.

Depois, com flores e pedras, fiz minha terra
(não aquela mesma praia, por onde o amante erra);
E quando o hábito da pena se fez cessar,
passei a refletir sobre o que era, enfim, amar.


Foi quando a estrela que surgia morreu
nas idéias do horizonte em seu apogeu
Mostrando que te encontrar não era tão fácil


E você,
meu verso,
seria só mais um em meu
cartapácio.


Predileções

São jogos onde o que vale
não é o que se gosta,
mas o que é tido
como possível.



Tente viver sem suas preferências.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Taumaturgo

Não como uma fênix,
mas com o típico peso
da caminhada humana,

ele senta e se reconstrói.

Vontade, peso, significado,
milagre?

Flor-de-lis ou camaleão?

Não.

O camaleão se esconde.
A flor, espírito.
A fênix, inceideia-se para renascer.

Ele, doa calor para sobreviver.

"Narimi, narimi"

Sensação de quem
acaba
de chorar.

Tarde fria e o
desejo de sentir o calor -
anseio a uma-hora de me recolher
ao escritório quentinho.

Lá fora, as luzes que
encerram o fim da
tarde
não se acenderam.
ainda.

Tons de cinza rabiscam o
vai-vem dos carros. Somente
a pressa é amiga fiel.

Não há deserto, como o
do pacificador de Neguev;

Aqui, somente letras e
capas multicores me tomam
a atenção - mais do
que sentido laborial.

Tarde efêmera e
noite fria. Vou dormir
ao som de pianos gregos.

Quero árvores, sombra
e água de aspergir sonhos.

Um pássaro me acordou - narimi! -
e disse em segredo
que a vida é feliz.

O exílio e o reino

"Eu também finjo um sorriso, retribuo um vago aceno,
e me afasto para ficar de frente à ampla janela olhando o mar.
Alguém já escreveu que o exílio é um reino,
e escreveram também que ele é sombra passageira".

(trecho do livro "O Mesmo Mar" - Amós Oz)

De um alpendre ao sol


Nada há no final que não tema o fim.
O alívio à dor que o separa do passado,
dos livros em branco,
dos beijos, do pranto...

À alma recolhe-se a chama feroz
Que por algo espera do outro lado da foz...

Das memórias velhas, sobrevive esta pena;
De cantar emoções, permanece este homem,
E ao vento o tempo estende sua trena.

Enquanto por mares, ainda navega
Em busca da simples escrita;
E por assim, vive andando
No desejo de permanecer eremita.

sábado, 24 de maio de 2008

Poema de amizade

Para aqueles que se vão, dedico minha saudade -
A vida por vezes se abre numa estrada covarde.

Para aqueles que esperam, dedico minha compreensão,
No momento delicado quando não se canta o velho bordão.

Para aqueles que ficam, dedico meu sincero abraço:
Que a amizade se transforme em perene laço.

Para aqueles que estão, dedico minha felicidade,
Pois é no presente que o amor constrói a eternidade!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

"Ouvido absoluto"

Por tê-lo, às vezes
se perde a emoção
de uma surpresa melódica.

Como um bobo que, propositalmente,
presenteia a si mesmo.

Constricção

É também minha prisão
onde me isolo e sou gárgula de pedra
- observo a noite, fazendo prospecção
em suas páginas não escritas.

Tempo perdido (?)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

O meu lugar

Aqui é o meu lugar.
Aqui, posso me encolher, me estreitar,
me espichar e espreguiçar,
correr, nadar, pular, fugir,
deitar do jeito que quiser
e contar mesmo todos os fantasmas.

Minha secreta escrivaninha,
feita de códigos e scripts,
impressa em mil cores e frequências.

Sou o cara, o nômade e o trovador,
que aqui escreve coisas inconstantes.

E quem será a mulher em cima das montanhas?

Amor

sm. Destino. Essência.

 (ex.: "Não dialogo porque já gritei demais")

Feriado

Estranhamente, o dia escorrega. A tarde passa triste, mas notável; com seus raios de sol docemente belos, acalentando árvores e todos os poucos seres vivos que pela minha rua passam. Isto porque não há quase ninguém nesta tranquilidade... todos tão cansados, aproveitando o dia para ficar em casa e se distanciar da rua, onde tanto vivem todos os dias, mas num ritmo caótico.

Mal lembram eles que este é, de fato, o melhor dia para se estar na rua.

Estranhamente, tudo parece mais lento. E não é só pela menor quantidade de pessoas, carros, bicicletas, motos, cachorros, loucos, estressados, ônibus-truculentos, topics-estúpidas que o dia se faz assim: é pela própria sensação de que o tempo desacelerou. E isso, para mim, é uma bênção.

domingo, 11 de maio de 2008

"Of whom shall we speak? For every day
they die

Among us, those who where doing us some good,
Who knew it was never enough but
Hoped to improve a little by living"


(W.H. Auden)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Estilhaços boreais

Os gritos do pai atravessavam seu corpo como estilhaços de diamante: com poder de machucar, mas irrevogavelmente autênticos. Não ecoavam pelas paredes eufóricos ou com alegria - bem diferentes daqueles dos garotos jogando futebol na quadra de um colégio ali perto - mas causavam uma ressonância de um trítono em uma forte sinfonia.

Os da mãe, ecoavam com uma fraqueza e sem volume, médio-agudos, sem a força que os anos de um tédio testemunhado lhe tomaram. Um duo triste de violino e contrabaixo, sem platéia, sem euforia... só uma verborragia que ele tomava conhecimento na calada das conversas, no desabafo individual e errante.

Não quer acreditar que vive aquilo tudo novamente. Desceu cedo ao sótão antes do furacão imprevisto, mas retornou ingenuamente na hora de ser engolido pelo olho da tempestade.

Sentado à escada, agora já adulto, ele lembra que já conhecia aquela sensação há anos. Fora reconfortado sempre por uma segunda mãe, que agora repousava em campos celestiais, ocasionando-lhe uma sazonal saudade que ele não podia aguentar. E gritava pelo colo dela no meio da noite, apavorado, incrédulo, querendo seu carinho sem medida voltasse naquele momento, o momento em que aquela "gladiação" acabaria de uma vez.

Dois guerreiros ensanguentados, na arena do convívio, lutando por duas vidas medíocres.

Dois espelhos pressionados um contra o outro, até o ponto de quase rachar.

E ele como único espectador, já que sua segunda mãe agora assiste tudo do céu, sem fazê-lo sentir uma intervenção.

Será verdade essa história de "na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias da minha vida?"

Ele não sabe mais de nada. Não quer verdades, mentiras ou promessas.
Ele só quer correr, correr para longe dos estilhaços de diamante ao final de uma tarde que deveria ser para seu descanso feliz, e esperar somente o abraço onipresente das estrelas e de sua segunda mãe, que agora vive em algum lugar com elas.


segunda-feira, 5 de maio de 2008

Teoremas

O caminho de volta para casa parece sempre mais rápido.
O ônibus avança em meio à pista ainda molhada da chuva e enxurrada de carros. Meio-dia.

Num livro, meu cartão de controle das sessões na clínica. Faltam quatro. Por quê não conclui?, me pergunto, Besteira, já melhorei, enquanto penso em outras incompletudes.

Das coisas interrompidas, tiro só a saudade.
Serei incompetente se voltar a tê-las.
Ouço a música, tenho a lembrança - nunca mais tente voltar atrás.

É, incompleto. De todo incompleto se faz o futuro,
se faz a semente daquilo que se cogitou plantar;
daquilo tudo, do inesgotável senso de capacidade.

Da saudade, faço meus versos.
Da incompletude, os deixo quase sempre obnubilados.


Todo caminho de volta é um caminho mais rápido.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Aqua's Deliverance


The words and the play, with the oceans fade away

Awareness in the blind, ‘cause we’re out of mind

Forever I’ll be your ghost, your seeker

An eternal dead love’s seeder



quinta-feira, 1 de maio de 2008

Queria

Se é assim que você quer,
que assim não seja.

pelo menos, aqui, comigo.
então, de qualquer modo,
pensarei que estava certo.

adiantou?

quarta-feira, 30 de abril de 2008



For The Heart I Once Had (Nightwish)


Heaven today is but a way
To a place I once called home
Heart of a child, one final sigh
As another love goes cold

Once my heart beat to the rhythm of the falling snow
Blackened below, the river now flows
A stream of molten virgin snow

For the heart I'll never have
For the child forever gone
The music flows, because it longs
For the heart I once had

Living today without a way
To understand the weight of the world
Faded and torn, old and forlorn
My weak and hoping heart

For the child, for the light
For the heart I once had
I'll believe and foresee
Everything I could ever be

For the heart I'll never have
For the child forever gone
The music flows, because it longs
For the heart I once had

Time will not heal a Dead Boy's scars
Time will kill

For the heart I'll never have
For the child forever gone
The music flows, because it longs
For the heart I once had


domingo, 27 de abril de 2008

Fragmentos de tesouro

"Assim é que se navega!", gritou o capitão para Jargo, seu marujo e fiel escudeiro. Logo em seguida, deu ordens para içar as velas à bombordo evitando os recifes e as pedras que rodeavam um banco de areia próximo; "Aye, captain!", respondia o marujo com satisfação em um brado que só aumentava sua força para puxar os cordões que içavam e recolhiam as velas.

Passando pelos recifes, o barco branco de madeira bem envelhecida - muito provavelmente de uma lendária sequóia encontrada em ilhas lendárias - passeava veloz e triunfante, porém fazendo um balé de suavidade quase tão imperceptível que mal tocava o lençol d'água do feroz oceano por onde deslizava.

Seus mastros eram tal altos quanto palmeiras; suas velas, de um azul da cor do mar e do céu, quase como um camaleão confundindo os olhos destreinados de caçadores iniciantes na selva. Ao sol, sua silhueta lembrava unicórnios, centauros, sereias e toda criatura mitológica que um dia possa ter inspirado heroísmo, coragem e sonhos dentro e fora de um mundo tão ilusório onde os olhos, lunetas e a fé não são suficientes para enxergar os camaleões da ciência e do coração dos homens cruéis, tendo por protagonista o oceano por onde o capitão navegava.

Bússolas reguladas, monóculos limpos, sua mente calcula e seu coração reza. "Bucaneiros à frente, capitão!", Jargo brada enquanto mobiliza os marujos a carregar os canhões e se preparar para o combate. "Sou um velho cão do mar, rapaz. Não se preocupe. Se eles atacarem, vamos fazê-los alimentar os peixes!"

"Yo-ho-yo-hoooooo!", responde a tripulação em um bravo coro.

O brado heróico e de preparação só é interrompido pelo urro maior dos tiros de canhão da embarcação se aproximando. Um dos tiros passa bem próximo à vela principal que, de antes azul-camaleônica, passou a ser bem visível pela fagulha deixada em seu tecido. "Atirem, marujos! Atirem com vontade como se não tivessem fígados!", gritava o capitão anunciando o início da aventura. Mais tarde os dois barcos se aproximam, cordas são atiradas de ambos os lados e a invasão começa junto à luta corporal, tiros de carabinas e espadadas.

No meio dos gladiadores marujos, os capitães dos dois navios agora estão frente a frente.
Terror e fúria nos olhos. Mãos nervosas sacam as espadas da bainha.

"Este navio é meu, velho marujo. Desista!"
"Ninguém... ninguém vai tomar este navio enquanto eu ainda for homem e tiver um fígado para beber rum até cair. E se eu cair, que seja por este rum, e não pelas suas mãos!!!"

Os dois avançam. Posturas perfeitas de ataque.

Espadas a postos,
lentamente fazendo curvas no ar.

Dentes rangendo e olhos atentos, calculando cada movimento.

Elas vão se encontrar quando...




Escuridão.

A tela à sua frente apagou-se - queda de energia no bairro inteiro... E ele nem sequer pôde ler a mensagem de Game Over, ou mesmo finalizar o programa, salvar as alterações nos seus arquivos ainda abertos e encerrar os downloads em progresso.

Mas para não ter um final triste, juntou seu salário por algum tempo, fez economias e então, dois anos depois, comprou um barco a vela. De verdade.

E saiu por aí a caçar tesouros.


"Mamãe, acho que sou um pequeno gênio!"

Dos 6 aos 10 anos de idade, aquele garotinho tímido, gordinho, que ria de tudo já demonstrava algo em especial: uma sutil aproximação com as artes. Sua criatividade lhe incentivava não só a desenhar, pintar e - mais tarde - ter gosto por música, mas também a fazer planos que o destacariam como um hábil estrategista de negócios indo desde a barraquinhas de venda de doces até planejamento de fábricas onde os empregados eram seus bonequinhos de plástico e suas peças de Lego e Playmobil.
E assim, ele começou a desenhar; na escola, em casa, nos cursos, entre os amiguinhos.

"Olha mãe! Olha, dindinha! Fiz uma árvore, duas dunas e uma casa com chaminé!"
"Que bom! Agora vá terminar sua tarefa de matemática."
"Que droga de problema! Não consigo resolver!"

É, parece que os números o acompanharam como seu único karma até a idade adulta.
Mas isso não o desestimulou aos desenhos, pois ele continuava e bradava a todos que aquilo seria o seu futuro. O pequeno garoto, gordinho, tímido e risonho, na mais tenra idade já começava a se tornar um idealista de mãos cheias. Seus desenhos eram sua razão, seu elixir, seu devir e só não eram mais gostosos do que a geléia com leite em pó que ele adorava devorar com biscoitos em frente à tv, de tarde, na hora do lanche.
O idealismo, a timidez, resquícios de gordura corporal, a capacidade de sorrir, a imaginação – e, claro, os problemas com números - cresceram junto com ele. Mas o menino gordinho se foi, dando lugar a um jovem que hoje se pergunta onde foram parar os desenhos que ele fazia na escola; se acaso foram jogados no lixo quando em uma faxina periódica nos arquivos da escola, ou por algum professor que não via valor algum naqueles "desenhos de criança"; ou se foram guardados por alguma professora carinhosa que amava as artes de seus alunos tanto quanto a seus próprios filhos.
Misturando habilidades, ele começou a deixar sua imaginação o levar a lugares que se tornaram efêmeros com o avanço dos anos, que foram implacáveis, mas que sempre ficaram em algum lugar na sua alma de criança. E após todos estes longos poucos anos, hoje ele se questiona todos os dias sobre seu próprio idealismo - agora escrito por notas em uma pauta musical.

E se você me perguntar onde está este garotinho hoje, com certeza lhe direi: ele está logo aqui... em mim, em você, em todos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O propósito de Shiva

A única coisa que conseguiu soar mais pesada naquela noite além do estrondo da porta se fechando foi o eco quase inaudível da frase “Eu quero terminar”. Como na silenciosa maneira dela se sentar ao sofá, jamais cruzar as pernas e olhar pra baixo, de ombros caídos e olhos ferozmente indecisos. Como em todos os outros dias, onde ela falava tudo pelo silêncio.

-Até que ponto você vai com um homem?

-Não entendi a sua pergunta...

-Não seja sonsa... Você não é mais criança – ou ao menos eu acredito que não seja mais.

-Estúpido.

-Até que ponto você vai com um homem? Heim? Me diga! Até o ponto em que você perceber que ele não pôde te dar o que você queria por você achar que ele não te quer mais simplesmente por ele não poder te ver todas as noites, ah sim, porque ele é responsável e tem obrigações e tem que ir pra casa estudar e dormir, pra trabalhar no outro dia? Ou por você ver que, realmente, é você quem não reconhece as mínimas coisas que ele faz pra te agradar, pra fazer você se lembrar dele com carinho nos mínimos gestos?

- Não é nada disso...

- Então O QUE É? Me diz, AGORA! Vai! Que “ciclo” maldito é esse?

- Não tem ciclo, querido...

- Como não tem? Um dia você me quer, outro dia faz tudo parecer não ter existido...

E ainda sou seu “querido”? Você não prefere aquele seu “anjo salvador”, que veio pra te salvar das minhas garras maléficas?

- Que garras?

- DO MEU AMOR, PORRA! – ele gritou, como jamais havia gritado antes em sua vida.

- Pára com isso...

- Não, não vou parar, porque isso te convém... Você quer continuar a viver na sua prerrogativa adolescente de “curtir” e não percebe o que você faz com as pessoas? No começo, ah como era! No começo você queria me ver todo dia, era um tal de “te quero, sinto sua falta”... Agora, o que eu sou? Que merda eu sou pra você?

- Você é muito importante na minha vida!

Apreciar aquela última frase foi como um vinho para ele: suave, porém frio. Foi suave como a ausência de uma porta sendo fechada violentamente por ele, que saía daquele apartamento para nunca mais voltar.

Mas ele sabia que – e quem – iria voltar. “Construir, destruir, renovar... tudo é como um ciclo natural, e alguém sempre vai ter de perder. Mas vencedores não necessariamente ganham” – pensava ele.



A única coisa que conseguiu soar mais pesada naquela noite – além do estrondo da porta se fechando e da fatídica frase – foi o silêncio da felicidade dele. Um palhaço que, assim como todos os palhaços, não importa o quão sua vida esteja confusa, sempre termina o espetáculo rindo de si mesmo.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Velocidade é antônimo de personalidade

E aqueles dois velhos amigos, distantes pela própria velocidade que os dias de hoje impõem, se encontram na rua em um dia tão veloz como outro qualquer:

-E aí rapaz! Como vai essa força?

-Tudo jóia...! Só essa correria, né? Como é que pode, heim, cara?

-Pois não é... Nossa, que coisa, te encontrar justo agora que meu ônibus tá chegando!

-Qual? Aquele ali?

-Eita! Se correr um pouco, ainda pego ele no sinal fechado.

-E eu! Tenho que correr, senão vou pagar 2 reais a mais no estacionamento.

-Pois foi bom te encontrar, cara! Me manda um e-mail que a gente bota o papo em dia, ok?

-Valeu! Um abraço! Tudo de bom!

-Pra você também! Tchau!

Mas suas palavras ecoaram tão velozes que não podiam seguir seus próprios rastros; um, correndo na direção do estacionamento, a vinte metros de distância; outro, atrás do ônibus que agora arrancava à toda velocidade por causa do motorista que, silenciosamente observando a cena pelo espelho retrovisor - a vinte metros de distância - decidiu, ou por sacanagem ou por pleno protesto, acelerar e fazer com que o apressadinho perdesse o ônibus.

Pois tudo que os dois queriam, naquele breve encontro,
era saber o nome um do outro.

E um computador, para confirmar esta informação no perfil do Orkut.

Dilema não-fundamentalmente sônico

Será que as melhores idéias...

(e não importa se você seja branco, negro,
católico, budista, protestante, ortodoxo,
consumidor ou comunista)

...surgem somente ao piano?

Como se renova um contrato consigo mesmo?

Era uma quarta feira de um dia cinza, com chuva tímida e intermitente.
Pois foi quando, novamente, em suas poucas recentes investidas ao mundo exterior, ele se sentiu anulado de qualquer traço de personalidade própria.

Como poderia ele, que sempre tratou todos tão bem, que sempre foi simpático, educado, questionador, paciente, poderia se sentir tão só, tão invisível?

Se se faz um contrato consigo mesmo, de ser "o melhor possível", como é possível renová-lo?
Seria tal contrato realmente necessário?

Porque ele ouviu naquela música algo como: "Though I cannot change the world we're living in, I can always change myself" - e essa foi só mais uma das muitas canções que o perseguem, que o condenam, mas que legitimam e permeiam sua vida.

Ele é guiado por boas canções. Quer compor, quer falar as pessoas através das suas próprias.
Mas ele também quer mudar. Pois, como naquela mesma canção que há dias o persegue, ele não pode mudar o mundo, mas pode mudar a si mesmo.

Já é final da tarde desta quarta-feira de cinzas - assim é possível chamar - e ele sente necessidades. Necessidades de ser visto, de seu telefone tocar, de algo ou alguém para tirar-lhe do sedentarismo que o ocupa quando não está somente trabalhando. Seus olhos estão caindo, sua juventude mantém-se no espírito, na vontade de vencer, sobrepujando todo tipo de mal humor externo ou condições que o estressem.

Ele quer correr. Ele quer voar e gritar, e cantar, e tocar.

Mas como poderia ele ser visto, se não se deixa o ser?
Ele quer sair da burocraria microfísica que o atormenta os dias, as noites, os beijos, as faltas de gente, de dinheiro, de tudo.

Ele quer gritar, e explode por dentro - não sabendo dizer se de raiva ou de amor.
Mas ele somente grita. Somente. E em silêncio.
Para voltar a sentir o sol lhe queimar a pele
e devolver a textura pulsante dos dias quentes.

Isto é vida querendo viver.

terça-feira, 22 de abril de 2008

"Quero ser pai!"

E como o primeiro programa de uma manhã (ainda) não chuvosa, ele teve de passear com sua mãe e sua prima, mãe de um lindo garotinho de seus recém completos 4 meses de vida.
Pois naquele dia, toda a natureza parecia conspirar para aflorar seu instinto paterno, que ele sabia já ter por adorar crianças desde sempre.
Passeio vai, passeio vem, ruas, lojas, agarra o menino, leva no colo, Meu deus, como baba!, e ele já estava gostando da brincadeira. O pequeno bebê o olhava com grandes olhos de curiosidade, afeição, quase que dizendo Você é louco, como pode nesta idade já querer um como eu?

Conversa vai, conversa vem, e ele fica sabendo de uma oportunidade. Uma assustadora, porém encantadoramente conspiratória (para aquele dia) oportunidade: Meu filho, fiquei sabendo que ela tem problemas e que o médico disse que a solução é ter filhos agora ou esterelizar.
Surpreso consigo mesmo - e já aceitando a teoria da conspiração para aquele dia paternal -, ele se enche de um tipo de emoção nova, um tipo de emoção de fazer algo grandioso... Um filho.

"Quero ser pai!", ele diz sério para a mãe. Ela parece concordar, pois ele se "voluntariou" a ajudar no problema da garota que também quer muito ser mãe. Assim, faria três grandes coisas:
salvaria a saúde dela, saciaria seu desejo de ser mãe e... sua vontade de ser pai!

Ele pensa sério durante a viagem no carro, voltando para casa, num dia (ainda) não chuvoso.
É tomado por uma emoção nova, algo grandioso poderia estar por vir?
Seus instintos se afloram, enquanto ele pensa em como ainda aprendia a carregar e a brincar com o filhinho de sua prima, naquele mesmo dia.

Pois que ele vai ao trabalho e não demora atende uma cliente que lhe pede um livro sobre "como explicar a reprodução humana e a sexualidade para minha filha de cinco anos"...
Realmente, só podia ser brincadeira.
Mas ele sabia: a teoria da conspiração paterna estava declarada e em atividade.

"Quero ser pai!", ele comenta com seu colega.

"Gosto dos nomes Nadia, Letícia... Letícia significa alegria, e Nadia, espírito de luz."

"É, eu gostaria de ter uma menina, e de chamá-la Mariana... tenho uma sobrinha com esse nome."

E ele pensou e, ainda hoje, pensa.
Será possível mesmo?
E se ela aceitar de verdade?
Como será criar uma criança? Quer dizer, os dois têm seus empregos, poderiam fazer um esforço e sustentar um bebê sem problemas. Ele teria todo o carinho e o cuidado dos pais, dos avós que amam este casal de amigos. Sim, amigos - por enquanto (se é que realmente pretendem casar), mas que compartilham este divino desejo.

A conspiração só parou à noite, bem tarde, quando ele já voltava pra casa e o taxista interpelou:
"Ter filhos não é pra qualquer um não!"

Só podia ser brincadeira...!

Mas ele ainda pensa...
E sonha...

Letícia ou Nadia?

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Decisão...

Vá embora!

O coração é seu
Suma de mim com tuas confusões,
Indecisões,
Seduções...!

Não quero mais ser compreensivo,
Pois já o fui por demais
Não quero teus beijos com gosto de tesão
Pois me acenderam de paixão chamas agora mortas.
Não quero mais teus sonhos pueris
Pois já não são maduros para minhas ambições
Não quero mais teus abraços macios
Pois são de pura carência que não se resolve só comigo
O coração é seu
Não sou sístole nem hormônios
Ou qualquer química despojada de mágica
Para te entorpecer.

Cansei.


quarta-feira, 9 de abril de 2008

Sensível

Descobri em mim, exercitei e agora tomo vantagem,
a incrível habilidade
da paciência e da serenidade.

Porém, nas dependências mais ocultas deste templo,
há uma tempestade contida - um núcleo de força
sentimental - prestes a colidir com o escudo do mundo exterior.

E quando ele colide,
meu corpo físico desmorona.

E minha serenidade vira angústia e arrependimento.

Credo, somos mesmo estranhos!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Dentro da chuva

Amanhece. Céu fechado. "Dia bom", gosto de pensar quando é assim!
Calço meus sapatos caros - nem tanto - e saio para o mundo, minha casa. As lágrimas do firmamento começam a cair, pelas grandes pupilas da Criação.

Eu gosto da chuva. Gosto mesmo. Me envolve, fascina, gosto de sentir a pulsação e o ritmo das gotas caindo no chão; o som que lembra um rio corrente, os efeitos da luz sobre as partículas... o sol desfazendo a névoa de antes da garoa e, logo após, se recolhendo tímido por trás das nuvens que tomam a dianteira, que agora são protagonistas do dia.

Em passos curtos me mantenho presente em cada porção e poça também, em todo som da marginalidade da água nas calçadas, nas paredes, que passam como intrometidas por quem quer ir a algum lugar, seja de carro ou ônibus, ou a pé, sendo os pedestres os mais sofridos...

Todos, menos eu!

Se as ruas se afastam e levam as pessoas,
eu me aproximo e as águas que aos outros espantam, agora me abastam. E me abraçam.
Filho do mar, sou quase ribeirinho... numa cidade de pedra,
das águas, eterno amante!

Pois sei que lá, na nascente grande e distante, há algo ou alguém
além da cortina branca das nuvens, no frio que separa o dia;
há algo ou alguém banhando a própria vida e gritando:

"-Tira teus sapatos caros. Aproveita o dia!"

domingo, 6 de abril de 2008

Sair

Realmente, existe;

Dentro de todos nós, a vontade de ganhar o mundo....
Sair de casa, nem que seja pra um passeio bobo - mas nenhum passeio é bobo, pois quem tem sensibilidade desperta coisas boas ao ver a paisagem onde se anda - ou pegar uma mochila e viajar sem nem dizer 'tchau'...

Ver cenários novos, gente nova, novo ar, água, terra e fogo.

Mas, por enquanto, estou sentando à frente do meu confortável computador, escrevendo isso,
são 21:34h de um domingo frio e eu tô ouvindo o Morrissey cantar:

Take me out tonight
To where there's music
And there's people who are young and alive.


As chaves do carro estão na sala.
O carro, lá embaixo, na garagem.
As pessoas, lá fora.
Eu, aqui.
Querendo estar lá.


A gente nunca sabe o que quer mesmo!!!
=)

sábado, 5 de abril de 2008

Dançando com um estranho

Não pertenço a ninguém,

Mas sou homem de vários amores:

Amor pelo céu, pelo mar, pela música eterna,

E por mulheres das minhas dores.

Gastei muitos anos tentando

Caçar o motivo dos meus medos

Por apenas um momento de certeza

De que escreveria bons enredos

Para esboçar, no papel da vida,

Toda a plenitude do coração;

Que hoje - tão surrado e tão feliz -

Pratica as efemeridades da paixão!


terça-feira, 1 de abril de 2008

Ah, sim... o 1º de abril

É, quase esqueço!

Tão bom mentir nesse dia, né?
Fazer pegadinhas - que, às vezes, pegam MESMO - zoar com os outros...
Essa é a parte divertida!
=)

Mas queria tanto poder mentir pra tanta coisa dentro de mim!

Certo, preciso mesmo parar de ser tão saudosista, nostálgico.

Mas não... me aguento e sigo o conselho do sábio Renato Russo:

"Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira"


Seguindo sinais de memórias distantes

Sua pressa é o avesso
da minha calma.
Quase sempre não me diz "bom dia"
- ou por esquecimento ou ansiedade
em concluir outro atendimento.

---

"-Códigos de ética,
profissionalismo,
não se envolva, blá blá blá!"

---

Mesmo assim, me permito
e te ocupo a paisagem de ver:
pois, sem saber, tens um sorriso
e nuances que me lembram
um distante bem-querer...

Tento, te noto,
mas nunca me toco

que você não me vê!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Prólogo: "o abraço do mundo"

A menina chorou olhando para o céu.
Viu seu destino aportar no vale dos sonhos distantes.

Sua janela já não era grande o suficiente para carregar o peso de seus quinze anos de existência e as fases que essa idade traz. Também não era robusta para aguentar tão cedo - embora o amadurecimento da idade adulta se aproximasse - as faces de um mundo real e cruel, que abraçava-lhe a soberania de sonhar.

Mas este epílogo ainda é página distante...

domingo, 23 de março de 2008

Reencontros

"Do Cvidanja" é uma expressão em russo que significa "verei você novamente".
É algo mais como uma promessa, mas longe de ser exatamente um "adeus".


Friedrich W. Nietszche também cita algo semelhante em sua (inacabada) teoria do Eterno Retorno (em alemão, Ewige Wiederkunft). Nesta, ele propõe que nossa existência não é uma jornada de ciclos que se repetem e que o mundo não se faz de pólos opostos, mas de faces complementares que se montam em uma única realidade.

Bem e mal, amor e ódio, fogo e água, feio e belo, harmonia e dissonância... todos são compostos de um mesmo líquido, uma mesma amálgama de Vida.

O momento de nossos reencontros (sejam com alguém ou alguma coisa) é a hora da consagração das memórias; da exaltação de uma construção hierárquica de etapas do Eu. É nele que nos deparamos com medos, aflições, ansiedades passadas que voltam à tona como um soco no estômago.



Mas é do estômago também que vem aquele friozinho chamado expectativa... E da expectativa nasce o desejo por respostas de significados que ainda não temos; ou de reminiscência, de situações e sensações distantes já vividas, mas pelas quais daríamos tudo para reaviva-las de forma tão sólida quanto nossos próprios ossos.

Passaríamos por um processo de lancinantes dores para enxergar ou reviver a estrutura dos ossos da saudade, da melancolia, do júbilo pelo passado? Renunciaríamos à nossa condição de perfeita saúde só por uns momentos de reencontro com nossa gênese, nosso cerne, nossa infância mesmo que para isso tenhamos que passar pelo incômodo da extrema dor?


De onde vem, então, aquela sensação de que adoraríamos o mais belo templo das memórias, da felicidade, da eternidade? Um local onde se possa sentir as respostas de tudo que sempre permeou nossos desejos, angústias, saudades, amores, vontades, conquistas... um lugar onde o máximo momento, a apotheosis da condição humana e suas perfeitas imperfeições se revelariam tão palpáveis quanto o chão que pisamos.

Onde a mais bela das Músicas tocaria solenemente, seja como uma contemplação das mais infindáveis e belas emoções humanas ou como um réquiem anunciando a estrada final da vida terrena... e abrindo o caminho para o limiar entre o tempo e o espaço, o além-vida... e que fosse um lugar onde essa Música se traduzisse em formas, imagens, frases e significados que não nos deixassem sem nenhuma sombra de dúvida de seus propósitos, dizendo:

“Isto é para você, por você e com você, por causa de...”

Somente a canção, as notas, os instrumentos mais serenos e fortes, sem nenhuma intervenção interpretativa, mas com seus ritmos pulsando em compasso com a alma.

Acreditando ou não que haja algo além desta vida, todos já sentimos aquele torpor na parte posterior da cabeça, de uma forma em que nosso cérebro se encontra em plena letargia, mas de alguma forma, simultaneamente, conectado a tudo o que não é meramente material. A todas as pessoas importantes e que estão distantes... a todas as lembranças e desejos bons... a todas as sensações que conseguimos lembrar e que ficaram guardadas intocáveis como relíquias sagradas nas câmaras destes mausoléus de memórias sólidas...

Memórias, estas, tão fugazes como a fumaça do incenso mais aromático: altamente prazerosa, porém, que foge e se desmancha ao tentar ser tocada por mãos curiosas. Tão fugazes e frágeis como uma perfeita bolha de sabão...

Onde nos encontraremos?

Como nos encontraremos?

Quando nos encontraremos?

“Vejo você mais tarde...”, alguém me diz.

Mas o tal “mais tarde” não possui qualquer corrente, lógica, princípio que lhe prenda à noção do fluxo exato do tempo. Mas disse o filósofo Amiel que “o tempo é o espaço entre duas recordações”.

Nesta hora, me calo.




E na minha pequena ignorância (e esperança) me indago:

Somos fadados, então, a nos reencontrar sempre, nesta ou em outra vida?

"Verei você novamente..."