KindS of Blue...: 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Dea





Só te peço que me alimente
com tua boca cheia de palavras
pelas tuas mãos graciosamente melódicas
pulsando e pinçando com delicada firmeza
as teclas de um empoeirado piano – minha mente


Só te peço que me harmonize
que conjugues verbos e intervalos,
versos e melodias, em completa sincronia
do sorrir em silêncio que conduzes
em sensual maestria até minha cansada vista
pousando sussurros de poesia
em meus sedentos ouvidos.


Deusa do mar, do infinito poetizar,
te dedico meu sangue e suor em
débil escrita! Humilde oferenda
que ousa ser profana e sujar de sonhos
impossíveis - mas sinceros de amar -
teu incólume, verde e feminino altar.


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Nudez e nada mais


Pintura de Giuseppe Dangelico



Aqui eu, na penumbra da minha companheira Noite, caçando fragmentos de luz que me deem o poder de escrever. Abro gavetas, subo em armários, quase até o teto em busca de minhas próprias máquinas de escrever: a luz que é a própria transcendência - reveladora, salvadora - se intromete na carinhosa escuridão que me abraça sem julgamentos.



E vem outra vez, com força e sem aviso
o velho desejo de nos despirmos por completo,
até mesmo dos trapos que mal cobrem uma
verdadeira essência - falha(mente) humana.
Nudez moral, sem máscaras ou papéis.

Tantas coisas, tantos padrões, eu's, adjetivos, vestes morais e amorais, leis, perfis (reais e virtuais), escudos, armaduras e ardis... Ainda bem que nos resta a solidão para, ao menos por um instante (ou numa noite quente de novembro), sermos.


Simplesmente, sermos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Flores mortas...?




É tempo de abrir gavetas.

Fazer um balanço do ano. Renovar minhas forças e descartar algumas energias negativas que insistem em se magnetizar em mim. Tempo de fechar gavetas. Jogar coisas fora, preservar outras, reciclar algumas talvez ("nossa, nem lembrava desse bilhete! posso aproveitar alguns versos aqui...").

É tempo de abrir gavetas.

Todos conhecem meu amor incondicional pela Música, mas por essa rotina louca que levamos hoje (também incondicional), esqueço de ouvir alguns (dos muitos) CD's que tenho. Nossa, sim, sou "louco" de ainda comprar CD's! Gosto da caixinha transparente de acrílico, como ela se encaixa bem ao fecharmos (não me desce de jeito nenhum esse negócio de hoje que chamam DigiPack). Gosto do encarte, da textura do papel, geralmente couchê... É como abrir gavetas. E sempre será importante pra mim.

Esta noite, reouvindo alguns aqui, me deparo com um que é um dos meus favoritos: da banda carioca de rock progressivo chamada Sleepwalker Sun (www.sleepwalkersun.com), pouco conhecida da grande mídia - mas é assim que bandas muito boas geralmente são. Lembrei de ouvir o CD. Lembrei o quanto gosto dele: do peso das guitarras aliado às belíssimas harmonias de piano e à doçura agressiva das letras temperadas por uma bateria tão pulsante quanto meu curioso coração. Lembro da arte do encarte: belíssimas gravuras de uma paisagem desbotada, triste, acobreada... uma casa velha, uma criança, uma cadeira de rodas, madeira estragada, folhas caídas, Vida e Morte, relógio quebrado...

Dentre as canções, sempre preferi a número 4 do disco, chamada "Dead Flowers", a qual transcrevo um trecho com a tradução abaixo:



"I am not quite sure I can open this drawer
I am not sure I can smell the dead flowers
Much to recover and this might make me cower
It make me uncover if what's mine is still ours"



"Não tenho certeza de que posso abrir esta gaveta
Não tenho certeza de que posso cheirar as flores mortas
Tanto a recuperar e isso me faz covarde
Me faz descobrir se o que é meu ainda é nosso"


Me deixo levar entorpecido pela força dessa canção. Pelo início tranquilo, com um doce vocal da cantora aliado a um piano fantasioso... pra depois entrar em alguns compassos de uma tempestade de emoções. E assim a canção vai se alternando, como um livro de poesias ora agressivas, ora românticas. E assim é a vida, a mesma velha emotional rollercoaster. 

Lembro, por causa desse verso, que é ainda tempo de abrir gavetas.

Abrir, deixar subir o cheiro do passado - às vezes amargo, agridoce, às vezes ensolarado, às vezes tão noite... Ah, tão sublime e alado!
Pois o ser humano nunca é completamente feliz com seu presente ou mesmo o tão sonhado futuro, e seguimos nossas estradas sem nunca deixar de olhar no retrovisor. É tempo de abrir gavetas, e tenho que fazer isso quase como um devir, uma pulsão que guia os passos de minh'alma aos templos que outrora ergui.

Seriam templos de flores mortas, afinal?

Talvez não. Flores não duram para sempre, mas os templos erguidos com suor e pedra podem conservá-las. Ouço novamente a canção e o CD inteiro logo termina. Abro velhas gavetas e lembro com um esboço de sorriso do tempo em que aprendi a ser corajoso, a quebrar o temor de me arriscar, alçar outros voos e mesmo a ser fraco à razão, deixar o coração me levar. Essa viagem sonora me abastece de energia criativa, de tesão pela vida e respeito ao passado. Em breve me vejo tocando uma bateria imaginária acompanhando a canção e balbuciando as letras. Fecho os olhos. Abro a gaveta mental e todos os bilhetes, sonhos, frustrações e forças dentro dela. Me sinto feliz, e estranhamente conformado. Não se pode ter tudo, mas visitar um sonho ajuda a aliviar uma porção da realidade. Mas calma! Realmente sou feliz! E o que nos faz tão "fortes" a ponto de querer negar o que já foi vivido? Nosso constructo precisa disso! É pão, combustível, água! Ninguém é tão bom que não tenha algo a guardar, afinal.

Guardo o CD e vou dormir.
Na minha cama, talvez ainda habite o cheiro de um templo sem pedra, mas de suor, calor e paixão.
Deixo-o ali, na gaveta. Pronto a ser aberto a qualquer sinal de saudade, ao invisível toque do impossível.

Pois, afrontando a letra da canção: o que é meu sempre será nosso, meu bem.

Tempo de fechar gavetas. Tempo de abrir gavetas...



sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Para um Mar...




Me perdi nuns olhos de quem mal me vê.
Tomado de assalto por um devir tão atrevido
quanto o querer saltar a distância do tempo.


Que distância? Não há limites
para o gostar-sem-rótulo,
o simplesmente admirar.
O segredo repousa sereno
neste mar-olhar
onde sou tão ínfimo quanto um grão
a somente contemplar.


O que um coração de fênix pode fazer
porquanto que é ciclo e não pode só uma vez morrer?
A resposta é sair voando até esses olhos -
pois seriam mesmo as janelas da alma
ou as portas do Paraíso?



O que me resta é
para sempre, ser azul:
tão somente o contemplativo,
o solitário céu pairando estático
no verde mar infinito
daqueles olhos perfeitos.





terça-feira, 1 de novembro de 2011

Aeternam Aqua





Céu fechado, dia bom.
As lágrimas translúcidas vão
Começar a cair pelas grandes
Pupilas dos olhos celestiais.

Passos curtos me mantém presente
Em cada partícula, em todo som
De rio corrente, cortina de luz
De gotas do céu, eterno afluente

E nesse ímpeto de me abrir
Trazendo junto o céu e o vento
A cachoeira das mãos vem e
Conduz sinfonicamente
O abrir das janelas da terra e da mente.


Deixar as grandes janelas do espaço e da alma se abrirem.
Nada mais divino. Nada mais humano.
Que a chuva venha, sem pressa,
molhar nossos dias, nosso amor e nossas agonias.



...... 


Certa você, querida Ana, em se deixar levar por tal "rebeldia" de se deixar molhar!
=)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sobre a folha





Para escrever, sê, antes
apaixonado por cada partícula
de luz, sede, suor e medo
que te faz esmerilar da vida um tenro segredo.


Faz do cotidiano, na pena
e na folha, teu filão
e de teus olhos eremitas
faróis dos outros, coração.


Que a folha seja teu deserto,
teu mar e teu espaço sideral
onde antes de te perder
encontre numa ideia teu graal.


Confisca, abraça e prende
a folha como se fizesse ela
parte de tuas próprias vestes.


Mas não te esquece,
infante trovador:
de abraçar também
este velho e cerúleo mundo -
lar cósmico do teu eterno labor!


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quasar



Estou urgente e urgindo por mudar
a rotina e os caminhos não-traçados.

Mergulhar bem fundo e voltar à tona
do mar de incertezas que afoga
o papel onde desenho
meu amanhã tão belo!

Enxergar além do além-comum
da uma vida em véspera de se aglutinar
num emaranhado de promessas desbotadas

É preciso se deixar levar
pela força infinita de um quasar

para enfim, deleitar-se em vista e ouvido,
do pulso magnânimo de uma estrela imperfeita:

o próprio refletir de si!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Constructo quo



A minha ansiedade já foi nervosa,
necessária, incisiva, e mesmo nas horas
tranquilas, utilmente raivosa:
agora, beija o ontem com desdém
e abraça tudo o que vier dizendo breve "amém".


Meus planos já foram fatais,
e tão maquiavelicamente apressados...
Quando muito agora atiram cegos dardos
e se adiam por três ou mais natais.


O meu amor já foi pacífico, revolto;
hoje é martírio num mar de delícias -
saudosa valsa em allegro non molto.


Não digo que agora sou de todo seguro, 
tranquilo, decidido, talentoso e maduro:
apenas construo e derrubo, erijo e desvio -
quando posso, dirijo com graça mesmo perdido
tentando controlar minha sábia tendência ao desvario.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dionísio e a cerejeira

Houve um tempo em que seu coração era uma tabula rasa. Não necessariamente sem qualquer experiência, como dizia Locke, mas um descompasso em uma partitura mal escrita. Inocentemente promíscuo e incapaz de discernir qualquer sentimento acima da linha de sua virilha.

Madrugada.

Todos os sons dormiram.

Para onde foi a festa daquelas ruas sujas? No meio da música pulsante e violenta, não podia ouvir o quase-sussuro que tanta falta lhe fazia. Bebeu, beijou, riu (falsamente), cantou... sem sentir nada. A vida deveria ser mesmo muito breve ali, como música de elevador - só se escuta até a próxima parada.
Aprendera desde cedo que seu laboratório era a noite; a solidão, sua amante, e o álcool seu melhor amigo. Mas tinha de voltar pra casa, desbravar outros mares.
Queria mais.

Na semana seguinte, um aniversário a comparecer. Amigo próximo, família simpática, fotos, bolo e sorrisos...
E ela.
Não! Não era, no entanto, a irmã do amigo. Era a vizinha - segunda casa à esquerda descendo a rua - e lembrou que já a conhecia de vista. (Re)apresentações, conversa rápida, risos e logo ele achava seu porto seguro.

Escolheu não escolher mais.

Era ela!, e seu nome era o canto das sereias, a celebração de Dionísio, o vinho mais macio e caloroso.
Acertava o curso de sua vida pelas mãos dela no leme corrigido.
Pelas mãos dela escrevia nova partitura.
As mãos dela criavam a luz.
Ela e sua boca, cerejas perfeitas.
Ela... sua ilha.

Seguiram viagem entre calmarias e rodamoinhos por cinco lindos meses. Descobriu nela o ir e vir de seus beijos como uma jornada sem volta. Nadou profundamente no oceano de eternas batalhas a vencer - batalhas invisíveis para ganhar seu coração.

***

Voltou à noite, ao asfalto.
Sua viagem acabara. O tempo passou sem pedir licença e sua ilha o deixou - pela primeira vez, não fora ele a deixar um lugar.
Mas era outra pessoa agora.
Escolheu o norte. Estendeu suas velas para partir sozinho. Porém, a solidão não era mais sua companheira: tinha, agora, a memória, tesouro que nenhum pirata ou abismo oceânico lhe tomaria.

A saudade trouxe-lhe o impossível ao toque das mãos.


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[Texto produzido por mim na faculdade para nota da AP1 na disciplina Atelier de Produção Textual, no ano de 2010]

terça-feira, 7 de junho de 2011

Palavras esquecidas, pessoas inibidas

Não sei por que, hoje vinha pensando no meio do caos de nosso trânsito: como sinto falta de um abraço amigo sincero! De pessoas que, por tempos, dei muito valor e soube estar presente com e para com elas, mas que se escondem não pelo medo de retribuir uma gratidão, mas pelas próprias máscaras que criam por cima de si mesmas.

Queria conseguir entender se pareço "chato" por ser sincero, por estar presente nas horas difíceis e hoje encontro uma baita contradição nisso tudo: mas "ser amigo" não é isso mesmo? Não é mesmo estar presente nas horas difíceis e mostrar-se incondicionalmente doado e solícito?

Será mesmo o destino de quem se mostra de coração realmente aberto ser esquecido ou rotulado como chato?

O que há no coração das pessoas hoje em dia, minha gente? Só mágoa, só a capacidade irrefreável de carimbar estereótipos na ficha do próximo! Por que as pessoas têm de se esconder em máscaras de "valores" que passam por cima do respeito e da consideração, mas quando lhes convém só querem exigir respeito para si mesmas?

Certas palavras foram esquecidas a muito tempo: "obrigado" e "desculpe", principalmente.

Há uma "síndrome do ego inflamado" - opa, doença nova que estou para catalogar! - que não permite às pessoas serem humildes e se calarem quando necessário, querendo sempre passar por cima da opinião de todos, querendo demonstrar um mundo de conhecimento e experiência que ultrapassam as linhas do respeito e do saber ouvir, seja através de atitudes desnecessariamente grosseiras ou que tentam impor superioridade.

Eu só queria que todo mundo vivesse em paz. Sem a necessidade de intrigas por razões fúteis, sem a incontrolável vontade de sempre querer ter a razão e passar por cima da história e dos sentimentos alheios.

Afinal, todos sangram o mesmo sangue.

sábado, 7 de maio de 2011


As coisas,

como elas são, 

se mudam 

com uma guitarra na mão.




Adaptei esta frase variando-a a partir de um poema de Wallace Stevens, "The Man with the Blue Guitar".
Esta obra data de 1937.
Coincidência ou não, minha guitarra é de que cor? 
=)

Declaro, aos quatro ventos, meu amor universal e infindável pela música.
Quem me conhece, sabe como a enalteço de várias formas, como arte, abstração que revela - em frequências e tons - sentimentos perfeitos e imperfeitos; como forma de salvar nossa consciência em momentos dos mais difíceis; como celebração, enfim... "Vida, muita vida", como diria um amigo meu.

Sei que, não importa o que aconteça, essa jornada chamada Música sempre vai estar comigo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Enfim, vou lembrar



Não sei se é do fingir
ou do faminto fomentar
essa vontade de pensar
que memória é só sorrir:

visto que, apesar do leve transpor
de páginas cingidas em mel e indispor,
"amor" era a senha para não se roubar
do tempo o curto espaço de um gostar.

Liberto, agora sei, que é de tão mais bem-ter
- e de nunca, jamais se desvencilhar -
(apesar do que a vida, teimosa, mandar)
da gaveta de sentir, um antigo bem-querer.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A fera e o amanhã

Eu e meus dentes, no passo de um jaguar
encaram o ocaso sem o peito abrandar.
Pois nele vem a presa - o futuro - e suas armas
sem piedade, nem vínculos ou amarras.

E apesar da selvageria natural,
que se espera de um felino e suas patas
nos rendemos com paciência total.

O amanhã é a fera
que vem sem piedade
seus olhos verdes não são de esperança
e nem escondem a verdade:
só espera sentado a ver a luta,
sorri para a vitória e para o luto
enquanto me acabo em diária labuta.


Entendo e espero.
Contente, me esmero:
medindo a vida sem exatidão,
fitando o horizonte armado
sem ódio ou passado
com luz no coração.

Vinho e Foucault



Analiso teu conceito, já ébrio em degustar
da vida o néctar de tradição divina:
quero, na paz do meu gabinete,
enclausurado na pesquisa iminente
entender teu cobiçado verbete:

com uva, em vida, na valentia,
vinho, vontade, microfísica?

Que verdades são essas sobre o poder
que me fazem sorrir ao beber?

terça-feira, 15 de março de 2011

Ébrio & Idílico Nº 1


Se uma vez me disseram
que a paixão era errática
e o coração, medido,

esqueceram de avisar
o cuidado de se ter
ao cruzar a ponte

que separa o rio romântico
do vulcão passional.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Encenar é viver?

O show deve continuar.
Esse show da vida, quase sempre
sem platéia nem aplausos calorosos...

mas, com certeza, cheio de trabalho
e suor por detrás das cortinas,
de seus panos a quem o coração
recorre pra enxugar seu suor
e por onde o corpo há de transpirar
o todo necessário para o ato seguinte,

curiosamente intitulado:
"Apesar de tudo, viver".

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ao meu amigo André França:


O que haverá de tão temível
se temos a amizade e já cruzamos todas
as fronteiras da falta de palavras?

O medo já se foi, irmão,
e teremos sempre um amanhã
da nova estrada.

Vem, segura minha mão de novo
e não solta mais.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Se vão num estalar de dedos:







O diâmetro do tempo
A cicatriz de seu efeito
E o arco da saudade:

Santíssima (?) trindade.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Pisar com força não adianta


Porque não passam de passos na areia, meu bem,
aquilo que a gente só foi por uns dias.
aquele caminho marcado e o castelo levantado -
frágil brincadeira de sonhar e se banhar
de sol e de mar.

Mas o mar volta....
Sim, sempre volta pra nos fazer
querer deixar mais passos ingênuos
nas areias da eternidade!

E o sol também
fazendo brilhar cada cor
dos momentos que somente
nossos olhos fotografam.